Olhar para o rosto de uma pessoa é a mais óbvia maneira de perceber o que ela sente no momento. Mas o rosto pode falar bem mais que isso: transforma-se em um mapa da psiquê, apontando traços profundos da personalidade.
Ao menos é o que creem os estudiosos da fisiognomonia – espécie de oráculo que interpreta os formatos do rosto e relaciona formas e proporções com atributos do caráter.
A arte de ler rostos é o gancho da série Lie to Me, apresentada pelo canal de TV paga Fox. Na ficção, Cal Lightman (Tim Roth) é um agente policial especializado em detectar mentiras de investigados a partir das mais sutis expressões que fazem durante interrogatórios. A técnica é capaz de levá-lo a solucionar crimes excessivamente problemáticos. A alta audiência comprova o interesse do público sobre o assunto, e rendeu à Fox o contrato para uma próxima temporada.
A pesquisadora Valquíria Martinez, formada em naturopatia na Espanha, garante que não há exagero: o rosto é suficiente para que descubramos intenções e até mesmo fatos marcantes da vida. Em Os Mistérios do Rosto (Ed. Madras, 168 páginas, R$ 26,90), ela traça panoramas entre diversas técnicas de leituras e elabora um guia. A primeira preocupação ao tratar do assunto é que a fisiognomonia não pode ser vista como uma forma de eugenia.
– Não é uma rotulação. Até porque uma boa leitura depende da análise de mais de 60 traços – explica.
Segundo a pesquisadora, a interpretação da fisionomia é um hábito inato, a primeira das artes adivinhatórias.
– Desde o berço, o bebê busca entender o que os adultos que lhe cercam esperam –exemplifica.
Teria sido praticada inclusive pelo filósofo grego Hipócrates para reconhecer o potencial de discípulos. Hoje, é tida principalmente como um instrumento de autoconhecimento.
Na prática, a leitura é feita a partir da associação entre formas geométricas dos elementos da face e características de personalidade. Por exemplo: maçãs do rosto e maxilares salientes denunciam pessoas ciumentas, assim como olhos e queixos mais arrendondados apontam para alguém maternal, dócil. Valquíria explica que as transformações no rosto com o avançar da idade são reflexo da vida experimentada. Dessa forma, os traços hereditários perdem importância diante das linhas de expressão e outros sinais adquiridos.
– Mesmo gêmeos idênticos imprimem marcas que os diferenciam, na medida em que tenham personalidades distintas – diz.
E o que dizer das plásticas? É o grande terror do fisiognomonista. Além de apagar a história impressa no rosto, as mudanças nos traços naturais podem interferir na personalidade.
– Mudar a imagem do rosto é alterar predisposições e posturas. Por isso, muitos ficam insatisfeitos e buscam repetir a plástica numa tentativa de melhorar – acredita.
Marcos Tadeu Cardoso
Historiador, professor, escritor e palestrante.
http://marcostadeucardoso.blogspot.com
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