O ser humano está cheio de definições e desejo por elas. Algumas pessoas passam a vida definindo a arte, por exemplo. Jornalismo também, principalmente porque os estudantes estão sedentos pelo conhecimento do que são. É uma arte, uma atividade com função social ou o espelho da realidade? Antes de tudo um trabalho, como outro qualquer, que envolve responsabilidades particulares. Com utilidade? Quanto a isso há dúvidas.
Difícil imaginar nossa sociedade sem informação e a articulação de pensamento propiciada pela atividade jornalística. Não é possível, no entanto, pretender dizer que é nas páginas dos jornais que as coisas acontecem. Mas certamente as coisas não aconteceriam da mesma forma sem elas, principalmente no que se refere a atividades públicas. Uma das primeiras providências de um governo autoritário é controlar os meios de comunicação, diretamente pela propriedade, ou através da censura, pois assim estará de posse do meio mais eficiente de diálogo dentro da sociedade. Por ali se espalhariam críticas, denúncias e idéias contrárias à ideologia dominante. Os que pretendem resistir fazem o quê? Montam formas alternativas de espalhar suas idéias, claro.
Ainda estamos tratando de um ideal jornalístico, que numa sociedade democrática teria condições de servir como voz de todos as partes. Jornalismo romântico, não real. A informação veiculada, em qualquer parte, mesmo que seja numa folha A4 fotocopiada, pertence ao dono do meio de comunicação, que estabelece a política de funcionamento. Empresas jornalísticas devem dar lucro, por isso muitas vezes vendem anúncios como matérias, vendem informações encobertas, mal apuradas, como a mais cristalina verdade. O jornalismo tem o perigoso dom de transformar qualquer coisa em verdade absoluta. Dom perigoso nas mãos erradas. Quando se fala em responsabilidade do jornalista (e normalmente ninguém lembra do dono do jornal, TV, etc.), a referência é ao uso de seu poder hipnótico.
Não existe mais uma praça de debate público, em que seres privilegiados defendem abertamente suas idéias. Os bastidores são mais amplos do que se imagina. O jornalista muitas vezes se vê como o narrador de uma peça de teatro, em que as máscaras não são identificáveis, os papéis não são claros e, mesmo se ele pudesse entrar nos camarins, não poderia contar tudo o que vê.
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